quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Crônica

A paz do infinito

Por Alessandra Leles Rocha

            Tudo o que eu mais queria neste dia, ou melhor, nos últimos tempos, era ganhar uma viagem ao espaço e poder desfrutar da paz e do silêncio que se perpetuam por lá; viver a experiência fantástica de se despojar de tudo por um tempo e recobrar as forças, os sentidos. Jamais até esse momento tinha de fato sentido bater tão forte e extremado o peso rude do cotidiano contemporâneo.
            Ele não chega mais em ondas, como cantava suave Lulu Santos na década de oitenta; é um tsunami por minuto, uma rebordosa atrás da outra para ser superada num piscar de olhos. Somos literalmente dragados por essa força estranha que nos toma de assalto e nos obriga a enfrentar o conhecido e o desconhecido do dia a dia.
            Haja força! Haja equilíbrio! Haja lucidez! Haja corpo que consiga suportar os golpes do consciente e do inconsciente, que seja verdadeiramente capaz de drenar a enxurrada de toxinas que percorrem nosso complexo sistema corpóreo na velocidade da luz. A sensação é de nocaute total! Percorremos no imaginário dessa realidade violenta os quilômetros extenuantes da maratona, sem ao menos sairmos do lugar; apenas, pensando, exercitando as faculdades mentais.
            Se por um lado noz diz à ciência que a expectativa de vida aumentou; por outro, a realidade parece querer encurtá-la com avidez. Não depende somente de nós o cuidado com a vida, com a saúde! É claro que podemos fazer muita coisa nesse sentido; mas, não podemos viver em uma bolha isolada dos problemas de todas as naturezas, que teimam em nos rodear. Procuramos fazer o máximo e o melhor que está em nossas mãos; entretanto, nem sempre isso será o suficiente para blindar-nos nessa grande batalha.
            O dia nos parece cada vez mais insuficiente, menos proveitoso. Começa e termina sem cerimônia, sem grandes novidades, sem purpurina e glamour; começa e termina porque tem que cumprir a labuta, o acordo de cavalheiros entre o sol e a lua. Lá vamos nós, seguindo o roteiro, perseguindo afoitos e desesperados os ponteiros do relógio, as areias do tempo; cada vez mais cansados, menos dispostos. Mesmo quando tudo para, nas breves horas da madrugada, aquelas em que a brisa nos acaricia em sonho a face, o cérebro ainda ferve, trabalha como se estivesse ligado ao mais potente gerador de ideias, amedrontado pelo risco de se deixar repousar tranquilo e perder os compromissos do dia seguinte. A carcaça humana segue o exemplo e também não se entrega ao deleite do descanso, vira e revira perturbada sobre a cama, como se nela houvesse espinhos, urtigas, ou pregos.
            Ah! Como seria maravilhoso romper as amarras e voar livre na imensidão azul, como fazem os astronautas! Omitir para a consciência o que nos aflige direta ou indiretamente. Penetrar a retina apenas com a beleza sideral, distante das guerras, das tragédias humanas. Pacificar nossas dores através do bálsamo reconfortante da reflexão silenciosa. Remendar os rasgos profundos de tantas feridas que não temos deixado cicatrizar como deveriam. Sim! Do alto impenetrável do universo talvez pudéssemos renascer para prosseguir a jornada como se deve.
            Contudo, se lá não podemos estar em corpo presente, podemos sim transcender as barreiras desse desejo e postar-nos contemplantes do céu, totalmente absorvidos pelo visgo enigmático das esculturas prateadas em suspensão. Nesse enamorar distante, cujo diálogo silencioso se aprofunda em intrigantes descobertas e revelações, a paz que anseia nossa vida parece enfim nos encontrar. Não uma paz triste e melancólica, mas uma paz reconstrutora do corpo e da alma, um sopro de vida sobre nossos caminhos.

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