sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Crônica do fim de semana!!!



Justiça e História nas palavras de Barbosa


Por Alessandra Leles Rocha


Longe de cerrar fileira com a imprensa e dispensar também o meu tempo precioso a falar sobre o Mensalão; afinal, essa nódoa rançosa no envoltório nacional mostrou que pode sim ser retirada, mesmo em processo gradual. Quero dedicar-me a discorrer sobre os bons ventos que trouxeram de volta - ao lugar de onde jamais deveriam ter saído - o esforço, o mérito, e todos os nobres valores constituintes de um ser humano de bem.
Já faz tempo que Rui Barbosa 1 descreveu em palavras o sentimento incomodativo que perseguia a sociedade brasileira desde suas origens: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”. Mas, não por obra do acaso, ou simples coincidência, quis a história trazer a mudança pelas mãos e o trabalho criterioso de outro Barbosa, Joaquim Benedito Barbosa Gomes 2. Coube ao nobre Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) a relatoria do caso mais grave de maus hábitos políticos e sociais do país nos últimos tempos. É! A prática da desonestidade, da corrupção, do chamado “caixa dois”,... e de toda uma lista de atos reprováveis estava tão cronificada que não se deu conta de que ela própria se faria arauto da grande devassa, pela qual se aguardava por mais de quinhentos anos.
O que pensaria o jurista Rui Barbosa, defensor das eleições diretas e da abolição da escravatura, político relevante na República Velha (ganhando projeção internacional durante a Conferência da Paz em Haia (1907), defendendo com brilho a teoria brasileira de igualdade entre as nações), se visse aonde chegou o nobre colega, negro, oriundo de família humilde, nascido em cidade pequena do interior de Minas Gerais, aluno de escolas públicas 3? As palavras eu não saberia dizer; mas, o sentimento de satisfação e orgulho por ele sentidos, eu não tenho dúvida em afirmar. Ora, Joaquim Barbosa traduziu com excelência os ideais acalentados por Rui Barbosa!
As páginas da história, dentro e fora do país, contam a rudeza dos desafios, dos preconceitos a serem enfrentados pelos negros até alcançarem o direito primaz da igualdade civil 4. Era quase “um sonho” 5! Mas houve sempre quem tomasse à dianteira, liderasse a mudança, enfrentasse os desafios, corresse os riscos, fosse o líder, a centelha da esperança e da motivação; ainda que a luta parecesse inglória. Que fosse uma ou um milhão de tentativas, o sabor de lutar palmo a palmo por um espaço, por uma oportunidade, valeria cada gota de felicidade pela conquista. O tempo, por fim se rendeu e realmente cuidou para colocar tudo no seu devido lugar, retificar as incorreções, devolver a vida ao seu trilho justo, livre, fraterno e igualitário!
Então, se torna engraçado, em meio à euforia desencadeada pelos últimos acontecimentos, ver que muitos têm atribuído ao Ministro um caráter heroico, quase hollywoodiano 6; talvez, seja pela tamanha falta de costume em lidar com o que é correto, ético, moral. Ele fez simplesmente a sua obrigação; e isso no Brasil, até então, é algo extraordinário, surpreendente! Mas, Joaquim Barbosa é tão somente um homem, um ser de carne e osso, o qual se diferencia pela sobriedade, pela responsabilidade e bom senso a conduzirem o seu modo irrepreensível e combativo de trabalho; sem estrelismos ou arroubos.
Como disse Rui Barbosa, “Se os fracos não tem a força das armas, que se armem com a força do seu direito, com a afirmação do seu direito, entregando-se por ele a todos os sacrifícios necessários para que o mundo não lhes desconheça o caráter de entidades dignas de existência na comunhão internacional” 7. Estávamos à deriva, na contramão de todos os valores, desesperançosos, apáticos. Precisávamos de uma razão visível, concreta, para recobrar os sentidos, romper com a apologia do “quanto pior melhor”, do “jeitinho”. Agora sim, há esperança! Há argumentos irrefutáveis para justificar a importância do estudo, a ruptura com a impunidade, o dualismo entre o certo e o errado, o valor do mérito,... e dessa forma estabelecer um novo caminho, sobretudo para educar as crianças e os jovens.
Joaquim Barbosa nos devolveu o sentido para sairmos de cabeça erguida, para não compactuarmos com “mal feitos” de todos os tipos e rechaçarmos quaisquer tentativas de realiza-los, para crermos na força do direito. Dessa forma, além-mar os comentários sobre o país também evidenciaram uma nova percepção; nada de fanfarrão ou displicente, mas de um país cuja Justiça está de olhos bem abertos.  



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