terça-feira, 19 de julho de 2016

Aos amigos

Ao alcance das mãos... do coração.


Por Alessandra Leles Rocha


Nesse mundo mergulhado na tecnologia, no virtualismo das relações, em que milhões de pessoas escondem-se do estabelecimento de uma coexistência real, ao mesmo tempo em que clamam pela presença do outro através da busca desenfreada por seguidores nas redes sociais, qual é de fato a disposição humana em coexistir?
Nas telas os indivíduos se predispõem a apresentar uma imagem perfeita (ou quase) de si mesmos. Não há sofrimento, não há carência, não há nada que possa torná-los menos interessantes aos demais. Mas, toda essa idealização só faz mostrar o quanto as relações sociais correm perigo; especialmente, a amizade.
Isso significa que as pessoas estão desenvolvendo todo tipo de empecilhos na fiação natural da coexistência. Estamos cada vez mais raivosos, intolerantes, indelicados, impacientes no tête-à-tête com os semelhantes, como se ninguém fosse suficientemente bom para compartilharmos o cotidiano. Então, como ter sensibilidade suficiente para enxergar e perceber uma grande amizade?
Na periferia dos comportamentos, como se tem conduzido, basta uma ínfima contrariedade para descartar o outro sem cerimônias. Ora, ser humano é naturalmente ser imperfeito. Aqui e ali nossas variantes menos afáveis e acolhedoras dão o ar de sua graça e nos tornam um tanto quanto esquisitos, bizarros, difíceis aos olhos de quem está ao nosso redor. É; ninguém será um primor de criatura vinte e quatro horas por dia. Aliás, nem os dias são sempre maravilhosos como nas propagandas de margarina.
Somos o que somos e ponto final. Está nessa singularidade, repleta de arestas e desalinhos, o perfil de cada ser. É por essa razão que não podemos banalizar punir e nem fugir as relações humanas desse modo. Precisamos expandir a consciência sobre o óbvio para que sejamos aptos a oportunizar os encontros.  
De repente, nas esquinas da vida a gente encontra pessoas capazes de se sentirem à vontade conosco; muito embora, aparentemente, sejam tão diferentes de nós.  Coisas de uma inexplicável teia de afinidades que surgem a partir de uma convivência que se estabelece respeitosa e harmônica.
Ao contrário do idealismo que teima em nos tomar de assalto pela vida afora, relações humanas (incluindo a amizade, é claro) não florescem pelo prisma dos nossos quereres; não se molda o outro a nossa vontade. Ou somos capazes de aceita-lo como é, ou então, ele certamente se encaixará no rol de outro tipo de relação social diferente da amizade, por exemplo.
E nessa aceitação é preciso estar ciente de que haverá tempos de guerra e de paz. Sorrisos e lágrimas. Silêncios e reconciliações. Haverá de tudo um pouco daquilo que só os seres humanos são capazes de viver, de experimentar e de compartilhar.
Portanto, precisamos muito refletir sobre isso. Por onde caminha a nossa disposição social em estar com o outro, ainda que, não necessariamente no mesmo espaço geográfico? O que de fato entendemos sobre o significado desse “partilhar”? A humanidade está visivelmente padecendo de uma solidão rodeada de gente. Cada um no seu mundinho tecnológico, limitado por uma tela que os carrega para longe do mundo real; muito embora, não consiga dissipar na mesma velocidade todas as suas angústias, tristezas e frustrações.

No fundo, nem poderia ser diferente, pois a Era Digital é feita por pessoas. E o que um ser de carne e osso precisa só outro ser de carne e osso pode oferecer.  Esse toque é insubstituível. É nele que reside toda a fiação das relações humanas, inclusive a possibilidade de grandes amizades. Por isso, não abro mão de ter amigos ao alcance das mãos; mas, sobretudo, do coração.

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