sábado, 15 de abril de 2017

"Temos de nos tornar na mudança que queremos ver". Mahatma Gandhi

Páscoa: você aceita o convite?



Por Alessandra Leles Rocha



Sempre considerei a chamada “Malhação do Judas” uma prática, um tanto quanto sem nexo; afinal de contas, Judas Iscariotes, o discípulo traidor, não precisou de ninguém mais, do que a própria consciência, para colocar fim a sua vida. Além disso, se prestarmos bastante atenção, não é essa prática a mesma que promovemos uns aos outros, sem antes a menor reflexão de nossos próprios defeitos? Independentemente se cristãos ou não, tal análise vem bem a calhar em tempos tão difíceis como agora.
Todo mundo se arvora de direitos, se abstêm dos deveres; mas, ninguém admite as próprias falhas e tropeços, nem tampouco se arrepende. Até parece que vivemos em um paraíso repleto de anjos ilibados. Por onde andará a consciência que doía ao menor sinal de culpa, hein? O que se vê, aqui e ali, são repetições de comportamentos deletérios, como se as deteriorações éticas e morais pudessem, de fato, ser consideradas mera trivialidade, já incorporadas ao nosso DNA.
O bom seria que ninguém precisasse errar para se arrepender; mas, diante da incompletude humana que nos torna falíveis, já estaria de bom tom a busca por minimizar tais atitudes. E isso não é tão difícil assim. Basta fazer uso do bom senso, do respeito, da responsabilidade, da dignidade, enfim... Ter em mente que aquilo que nos desagrada, também desagrada aos outros. Mas, infelizmente, ainda há muita gente que vende a alma pelas tais “trinta moedas de prata” e é assim, que se prolifera a legião dos traidores.
Antes e depois de Cristo, ou seja, mais de dois mil anos de história e o ser humano se deixa inebriar pelos falsos valores, pelos falsos poderes, pela reverência desmedida ao mundo das aparências. Vale quanto pesa, assim balizamos nossos pares, veneramos nossos ídolos. Permitimo-nos seguir enceguecidos pelas ilusões, ainda que estas nos façam padecer o pior das atrocidades humanas. Sim, são os traidores da humanidade, de todos os tempos, que consolidam a fome, a miséria, a desigualdade, a violência, as guerras entre nós, enquanto dissociamos a verdade da prática secular de queimar o boneco do Judas. No entanto, ao invés de nossa consciência nos penitenciar pelos pecados e omissões...
Todos os anos somos convocados a cruzar o caminho da reflexão transformadora, para que nossa essência mais pura e humanista possa renascer. Vejo que muitos cumprem o rito, mas não o propósito; como se o fizessem apenas  para satisfazer aos apelos mundanos, aquilo que esperam os outros. Eu sei que a transformação é tarefa árdua, dolorosa, complexa; mas, se o nosso próprio corpo descama para dar renovação e saúde a si mesmo, por que não fazemos também na alma?
Enquanto não nos permitimos voluntariamente a nos purificar pela transformação de nossos valores e princípios, não haverá paz ou luz que nos alcance.  É por isso que para onde quer que se olhe a humanidade vive atormentada, porque há um movimento perverso de rejeição à transformação. Mas, como disse São Tomás de Aquino, “Três coisas são necessárias para a salvação do homem: saber o que deve crer, o que deve querer, o que deve fazer!”. Portanto, debrucemo-nos, então, na reflexão imperiosa que o convite Pascal nos traz. 

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